quarta-feira, 28 de maio de 2008
















O sol bebe a água do rio

Todos os pés no chão

Calos, suplicas, beijo na planta

Evaporei-me ali


Viro chuva

Lavo os rostos

Corro para onde os dias irão

Cheiro todas as peles

Entre as pernas que gozam


Evapora

Lava

Cheira e

Gozam


O que era dor

Vira flor por tanto calor

Brinca na lama várzea

Pés quentes arrastam-se

Areia quente, arrasta-me


(Ba., 1995 - não pub.)

quinta-feira, 15 de maio de 2008



Enquanto pulsa o sangue nas fontes
Algumas crianças cantam o medo
Enquanto outras falam de amor
E outras se atiram loucas de pontes

O mundo pulsa veloz sobre os contos
Passam as folhas de novo livro
As pessoas correm seus olhos
Sobre luminosos lindos e tortos

(SP - 1990 - pub. O Bardo#8)

sábado, 3 de maio de 2008

Metáfora (Gilberto Gil)

Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta,
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplismente metáfora