terça-feira, 19 de agosto de 2008

A CERCA

Até onde ‘vai’ os olhos
Nas cidades, nos roçados
Uma cerca, uma linha infinita
Constrói a propriedade: uma parte

As partes e outras partes
Unidas por sua parte
Uma parte, unidade que se reparte
Divide os serem, aos pares

O ser cercado em sua parte
Cada cerca, cada parte: um ser
Parte que não se reparte
Liberdade que não se cerca

(Paulo Ferreira - 20/05/2005 – publicado no O BARDO #3)

PRA BOM ENTENDEDOR MEIA PALAVRA BASTA

(de meias palavras não tem nada)

Nunca Senti Tanto Medo De Ser Feliz - Zé Rodrix

Antigamente eu até sonhava
Mas hoje nem durmo mais, camarada
Desde que pegaram o meu lindo sonho
E transformaram em menos que nada
Acreditei quando me disseram:
Agora é que vai ser bom, camarada
Pisei fundo e forte na estrada e pensei: tô pagando pra ver

Pois pegaram meu sonho mataram meu sonho
Crivaram meu sonho de bala
Destroçaram meu sonho, picaram meu sonho
Jogaram meu sonho na vala
E me deram em troca a TV colorida gritando no meio da sala

E hoje que eu vejo esse olhar de cobiça na cara de todo o país
É que entendo que nunca senti tanto medo de ser feliz
Ainda assim a esperança acordando no peito boceja e me diz
Vai pagando pra ver que ainda vai ser do jeito que a gente quis, camarada

PRA QUEM ACHA QUE POESIA SÓ ORNAIII

Em tempos de política, me refugiarei na poesia, na esperança de encontrar um abrigo, para esse eleitor tão sofrido (...)

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

(Cecília Meireles)