quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A TARDE



Livre
a linha quase reta do horizonte
em curvas
vai cortando e definindo
uma velha e surrada colcha de retalhos de diversos tons
ora verde, carregado e profundo
passando por cinza até a nulidade marrom

Céu baixo.
Opressivo azul infinito em cúpula virada
Molde impreciso e volátil do mosaico vivo
Céu pressago que explode em azul locaz
comprimindo tudo em um afago suave

No centro deste círculo total, nesta terra
os olhos podem até perder a órbita
à boca da cratera, em um giro
receber o mundo nos braços
sentindo-o mais próximo entre os dedos

(Paulo Ferreira – Bahia - 02/02/2000)

DANE-SE!!!



Dane-se!
Que nada tenha
Que leve tudo mesmo
Haverá sempre outra maneira
E outra e depois outra
Não esta, é certo
Mas outra sim
Dane-se!

(Paulo Ferreira - Bahia, 20/02/2000)

HINO AO SONO

Ó sono! Ó noivo pálido
Das noites perfumosas,
Que um chão de nebulosas
Trilhas pela amplidão!
Em vez de verdes pâmpanos,
Na branca fronte enrolas
As lânguidas papoulas,
Que agita a viração.


Nas horas solitárias,
Em que vagueia a lua,
E lava a planta nua
Na onda azul do mar,
Com um dedo sobre os lábios
No voo silencioso,
Vejo-te cauteloso
No espaço viajar!


Deus do infeliz, do mísero!
Consolação do aflito!
Descanso do precito,
Que sonha a vida em ti!
Quando a cidade tétrica
De angústias e dor não geme…
É tua mão que espreme
A dormideira ali.


Em tua branca túnica
Envolves meio mundo…
É teu seio fecundo
De sonhos e visões,
Dos templos aos prostíbulos,
Desde o tugúrio ao Paço.
Tu lanças lá do espaço
Punhados de ilusões!...


Da vide o sumo rúbido,
Do hatchiz a essência,
O ópio, que a indolência
Derrama em nosso ser,
Não valem, génio mágico,
Teu seio, onde repousa
A placidez da lousa

E o gozo de viver…

Ó sono! Unge-me as pálpebras…
Entorna o esquecimento
Na luz do pensamento,
Que abrasa o crânio meu.
Como o pastor da Arcádia,
Que uma ave errante aninha…
Minh’alma é uma andorinha…
Abre-lhe o seio teu.

Tu, que fechaste as pétalas
Do lírio, que pendia,
Chorando a luz do dia
E os raios do arrebol,
Também fecha-me as pálpebras…
Sem Ela o que é a vida?
Eu sou a flor pendida
Que espera a luz do sol.

O leite das eufórbias
P’ra mim não é veneno…
Ouve-me, ó Deus sereno!

Ó Deus consolador!
Com teu divino bálsamo
Cala-me a ansiedade!
Mata-me esta saudade,
Apaga-me esta dor.

Mas quando, ao brilho rútilo
Do dia deslumbrante,
Vires a minha amante
Que volve para mim,

Então ergue-me súbito…
É minha aurora linda…
Meu anjo… mais ainda…
É minha amante enfim!

Ó sono! Ó Deus noctívago!
Doce influência amiga!
Génio que a Grécia antiga
Chamava de Morfeu,
Ouve!... E se minhas súplicas
Em breve realizares…

Voto nos teus altares
Minha lira de Orfeu!





Castro Alves nasceu na Fazenda das Cabeceiras, perto da cidade de Curralinho (hoje cidade de Castro Alves), no dia 14 de Março de 1847. Quando tinha sete anos, a família mudou-se para Salvador. No início de 1862, Castro Alves partiu para o Recife, onde fez os preparatórios para a Faculdade de Direito. Conheceu então a actriz portuguesa Eugênia Câmara, de quem se tornou amante aos dezanove anos. Na Faculdade, parecia mais interessado em agitar ideias abolicionistas e republicanas e produzir versos do que estudar leis. Óptimo declamador dos seus próprios poemas, recitou O navio negreiro e Vozes d'África sob a ovação dos estudantes. Sua vida afectiva entrou em crise pelas constantes traições à orgulhosa Eugênia, acabando esta por abandoná-lo definitivamente. Morreu em Fevereiro de 1871, antes de completar vinte e quatro anos, após a publicação do seu único livro em vida: Espumas Flutuantes (1870).

segunda-feira, 3 de novembro de 2008



TECENDO A MANHÃ

João Cabral de Melo Neto

1

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

(A Educação pela Pedra—1966)



Pode ser

mesmo não sendo certo

posso voltar

novamente poderei transformar tudo aquilo

acho que poderei concretizar

não petrificar

os meus pensamentos

mesmo que inúteis aos estribos

voltar é diferente do que pensamos

01/01/1990

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

TROMBONE NA RODOVIÁRIA - publicado no O Bardo#0

 
(da série viagens)

É preciso ter muita paciência!
Esperar como pedra ou milenares vasos chineses.

Faltam apenas algumas horas, creio.

As grandes cidades são tão perecidas,
tão corriqueiras
que chegam e ser iguais

Pelo alto - falantes
Avisos.
Pedidos de socorro
e depois a música igual: solo de trombone.

A expectativa de todos ali.
Os ônibus, perfilados, cospem gente
e o disco do serviço de som está arranhado...
Solidão. Solidão compartilhada.
O balet ritmado das vassouras do exército verde.
As crianças pedindo trocados.
Trocam por outros trocados,
trocam...

Longa espera.

(p16/04/1992) Paulo Ferreira

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Passado um tempo, em especial o tempo da pasmaceira eleitoral nas cidades, estamos de volta.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A CERCA

Até onde ‘vai’ os olhos
Nas cidades, nos roçados
Uma cerca, uma linha infinita
Constrói a propriedade: uma parte

As partes e outras partes
Unidas por sua parte
Uma parte, unidade que se reparte
Divide os serem, aos pares

O ser cercado em sua parte
Cada cerca, cada parte: um ser
Parte que não se reparte
Liberdade que não se cerca

(Paulo Ferreira - 20/05/2005 – publicado no O BARDO #3)

PRA BOM ENTENDEDOR MEIA PALAVRA BASTA

(de meias palavras não tem nada)

Nunca Senti Tanto Medo De Ser Feliz - Zé Rodrix

Antigamente eu até sonhava
Mas hoje nem durmo mais, camarada
Desde que pegaram o meu lindo sonho
E transformaram em menos que nada
Acreditei quando me disseram:
Agora é que vai ser bom, camarada
Pisei fundo e forte na estrada e pensei: tô pagando pra ver

Pois pegaram meu sonho mataram meu sonho
Crivaram meu sonho de bala
Destroçaram meu sonho, picaram meu sonho
Jogaram meu sonho na vala
E me deram em troca a TV colorida gritando no meio da sala

E hoje que eu vejo esse olhar de cobiça na cara de todo o país
É que entendo que nunca senti tanto medo de ser feliz
Ainda assim a esperança acordando no peito boceja e me diz
Vai pagando pra ver que ainda vai ser do jeito que a gente quis, camarada

PRA QUEM ACHA QUE POESIA SÓ ORNAIII

Em tempos de política, me refugiarei na poesia, na esperança de encontrar um abrigo, para esse eleitor tão sofrido (...)

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

(Cecília Meireles)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Quarta Poesia e Política

Um país se faz com armas e mesmices
Sem homens
E sem o direito de se permitir o fluir do conhecimento.
Com sonhos, desejos e impulsos sonegados
Sem nomes
Sem empatias ou fraquezas deste gênero...
Esta filosofia vencida do meu país enausea-me
Estágio avançado de um câncer na apoética de minha consciência
Dispertando-me, tardamente, um indestrutível aumejo por liberdade.
Nesta imparcialidade, ânsia sentimental.
Meu país é meu risco de vida
Carnificina emotiva
Holocausto antropocêntrico
Assassinato de princípios e sequestro ideológico.
Protege-se a covardia com estupidez e agressividade
Cultua-se a insegurança
Propaga-se a injustiça
Esconde-se a juventude ignorante e a morte de crianças desamparadas.
Já duvida-se do que deveras o homem sente
Se deveras sente ou vive
E faz-se pouco caso da honestidade.
Toda esta maldade alimentada
E toda esta falta de bom senso
Causam na minha poesia consciência política
E na minha política, liberdade incondicional.

(Prosador Poético)


Walt Whitman foi um grande poeta dos Estados Unidos. Viveu entre 1819 e 1892. Inaugurou o verso livre, muito antes do modernismo. Escrevia com fluência, liberdade, tesão e alegria. Estou relendo seu Leaves of Grass (em português, Folhas das Folhas da Relva). Recomendo a todos que gostam de poesia.
Em homenagem a alguns amigos que estão na campanha eleitoral deste ano, transcrevo o seguinte poema de Whitman (sim, ele era um poeta político, engajado):


Por ti, ó democracia

Vem, tornarei o continente indissolúvel,
farei a mais esplêndida das raças
que o sol jamais clareou,
farei terras magnéticas divinas
com o amor dos camaradas,
com o duradouro amor dos camaradas.

Hei de plantar o companheirismo
denso como o arvoredo a margear
todos os rios da América,
e ao longo das margens dos grandes lagos
e pelos prados todos
farei cidades inseparáveis
umas com os braços nos ombros das outras
com o bem humano amor dos camaradas.

A ti, ó Democracia, de mim
é isto - para te servir, ma femme!
A ti, por ti, vou estes cantos entoando.

[Whitman, Walt. Folhas das Folhas da Relva. Tradução Geir Campos. São Paulo, Brasiliense, 1983]



[ A obra completa de Whitman, em inglês, está disponível em:  http://www.bartleby.com/142/ ]

NOVAS EDIÇÕES DOS ZINES POMBALENSES



Não se esqueçam que as novas edições de O PIRA, A QUIMERA, ZINE INDE e O BARDO já estão na área e podem ser adquiridos na sorveteria Q Delícia (João Paulo), Banca Opções e Biblioteca Municipal. Também, é claro, através de contato com seus “editores”. FANZINES: LITERATURA E ARTE EM QUALQUER PARTE.  

"Poesia e política não são demais para um homem só".



Frase enunciada pelo professor e escritor Jomard Muniz de Brito, em debate recente na UFPB sobre o maio de 1968, revisitando o manifesto "Por que somos e não somos tropicalistas", 1968, Recife, alterando para melhor a conhecida frase de Paulo Martins (personagem do filme "Terra em Transe", de Glauber Rocha), interpretado por Jardel Filho, no recuado ano de 1967.
O homem deve ser poesia e política, por que não? Embora problema complicado, o acesso ou a impossibilidade de uma poética da política tem mobilizado muitos pensadores através dos tempos, desde a crítica de Heródoto a Homero, para quem o poeta exagerava as conquista gregas e faltava com a verdade, até Voltaire, para quem havia uma diferença bem marcada entre história e fábula. Acho que o gesto de Heródoto foi até mais radical que o de Platão em "A República" - a famosa expulsão de poeta da comunidade política ideal -, pois o primeiro historiador buscou uma base na história real dos gregos (as guerras púnicas, ou contra os persas) e não na metafísica, a exemplo de Platão. Se estou sendo claro, quero dizer que a discussão entre poética e política deve ser buscada mais na história que mesmo na filosofia conceitual. Sei que é uma opinião polêmica; de todo modo, uma fecunda hipótese de trabalho. Na "Filosofia da História" de Voltaire - antes de tudo, um grande escritor, um renovador da língua francesa; portanto, mesmo que não queira, um poeta - a possibilidade de escrever uma história universal crível começa exatamente pela eliminação da fábula. Uma pessoa amiga me perguntou durante a semana se toda poética é necessariamente, em sua articulação interna, política. Penso que não. Neste sentido, sou radicalmente kantiano (o que não me impede - ao contrário -, de apresentar diferença relativa com a sua epistemologia subjetiva do sujeito, nos moldes da superação hegeliana): acredito que a autonomia das esferas (combinado com a conexão entre elas, é claro) é uma aquisição da modernidade. Kant falava em três esferas e de três críticas: a razão pura (o conhecimento científico), a razão prática (a moral) e o juízo (a esfera expressiva da arte). Por outro lado, temos, sem dúvida, de vez em quando na história, as irrupções do poético, quebrando a continuidade reificada da vida cotidiana. Bem-vindas irrupções. Por exemplo, a explosão poética dos muros de Paris em 68 pelos grafites dos situacionistas significou precisamente uma aguda intervenção do poético no político. A propósito, gosto das apreciações de Derrida sobre as duas instâncias da linguagem: a acústica, dada pela linguagem formal, e uma dobra interna, que vai dar inclusive nas teias do inconsciente. Mais que na linguagem formal, o lugar da poética encontra-se na escridura do inconsciente, no paradoxo de expressão do inefável. (Jaldes Reis de Meneses).

Escrever para ser publicado é diferente de escrever para si próprio.

Quando escrevemos para nós mesmos, como um diário ou reflexões, estamos usando a escrita para pensar. É um ótimo método para esclarecer questões, visto que no papel mesmo as situações mais complicadas vão se organizando. Não é à toa que tantos terapeutas sugerem a seus clientes escreverem um diário. É muito bom para a cabeça produzir textos sobre o que é importante para nós.

Quando escrevemos para ser publicados, estamos escrevendo para outras pessoas. O foco passa a ser a necessidade dos leitores e não mais as nossas como escritores.

Quando escrevemos para nós, está certíssimo preenchermos nove páginas pesando os prós e os contras de determinada pessoa por quem estamos interessados. Quando escrevemos para os outros, precisamos cortar tudo que não seja interessantíssimo e contribua para o andamento da história, o que provavelmente transformaria todas aquelas dúvidas em um único e curto parágrafo.

É um difícil exercício escrever para ser publicado, porque em geral a gente gosta do que escreve, acha tudo importante e pensa que todo mundo vai gostar também.

Só que isso não é verdade. As pessoas selecionam os livros de acordo com o que estão passando, as dificuldades que estão vivendo. Algo fascinante para nós pode ser o máximo do tédio para um leitor.

Por outro lado, não podemos ter medo. Escrever para os outros é um ato de coragem, de se expor. Quanto mais honestidade a gente coloca no texto, quanto mais ridículo e perdido a gente se apresenta, tanto mais fácil os leitores gostarem da gente.

Quando escrevemos, temos também muita ansiedade a respeito do resultado. Queremos ficar famosos, ser elogiados, de repente até ganhar um dinheirão. É bom saber que a maioria dos escritores não fica nem rica nem famosa, e que nenhum escritor conhecido fez sucesso com o primeiro livro. Nenhum mesmo!

Portanto, vá com calma. Faça o que pode, não pense nos resultados, e vá escrevendo um pouco sempre. Querer escrever o primeiro livro e imaginar que ele vai ser o próximo Harry Potter é pedir para ficar decepcionado. É bem melhor publicar um artigo numa revista aqui, um poema numa coletânea ali e não ter expectativas loucas.

Mas como podemos saber o que dá para ser publicado?

Existem alguns requisitos mínimos para produzir um texto publicável, isto é, que venha a interessar um editor. Se cumprirmos todos, isso não é garantia de que nosso texto será aceito por um editor, mas já é meio caminho andado!

Abaixo estão algumas sugestões para fazer com que os seus escritos fiquem bons:

• Prestar atenção ao que está acontecendo em volta.
A escrita que mais interessa é aquela que fala das preocupações, angústias e felicidades das outras pessoas – e não só as suas – hoje. Os editores desejam obras conectadas com o público, que falem do que importa.

• Falar do que conhece.
Se você é um adolescente que mora numa cidade do interior e nunca viajou para fora do país, não pode escrever uma aventura que se passe em Paris. Vai parecer falsa. Nem dar conselhos para os mais velhos. Você tem de falar do que entende, do que já viveu em primeira mão, do que conhece muito bem.

• Ler muito.
Para escrever bem, você precisa ler todo tipo de literatura, inclusive novos autores brasileiros, romances esquisitos de autores de quem você nunca ouviu falar, arriscar poetas novos. Se você não souber o que os outros estão pensando e publicando, será difícil escrever algo criativo e diferente.

• Escrever muito e sem erros.
Para escrever bem, é preciso escrever todo tipo de coisa, inclusive cartas e emails, com clareza e sem erros ortográficos. Não adianta pensar que o corretor ortográfico ou o revisor vai corrigir seus erros, você precisa saber o que é certo, qual palavra é a melhor numa frase.

• Passar por um crivo de leitores críticos.
Sua mãe não vale, nem seus primos. O que é preciso é ir expondo seus textos a vários leitores que não tenham nenhuma amizade por você e possam fazer críticas. Um site na internet, um artigo numa revista podem dar o tipo de resposta que você precisa. Mas não adiante ficar pescando elogios, é preciso pescar os problemas para saber onde melhorar!

• Jogar fora nove décimos do que originalmente escreve.
Você mesmo tem de selecionar o que é bom e o que é mediano entre os seus escritos, não adianta achar que tudo merece virar livro porque ninguém escreve só maravilhas. Até Guimarães Rosa deixou um monte de coisa na gaveta...

• Amar a língua portuguesa.
A escrita é para aqueles que amam a língua. Não dá para escrever um livro querendo fazer um vídeo ou ficando com preguiça de aprender novas palavras. A língua é a ferramenta do escritor. Como o pintor ama as tintas, o escritor precisa ter fascínio pelas palavras.

• Confiar em si mesmo.
Quando você escreve, acredita que tem algo a dizer. Continue acreditando sempre nisso e busque a melhor maneira de ser autêntico. Editores querem escritos verdadeiros, não materiais artificiais montados para agradar. Faça com o coração que é sempre mais verdadeiro.

Laura Bacellar - laurabacellar@escrevaseulivro.com.br

sábado, 12 de julho de 2008

FANZINES POMBALENSES SE ESPALHAM PELO PAÍS



A cena cultural alternativa de Ribeira do Pombal vem mostrando, a cada dia, que essa vicissitude é só uma questão de ponto de vista e está passando de exceção para regra. Desde a publicação do primeiro fanzine ( ZINE INDE) até os dias atuais, muitas outras publicações vêem surgindo, abordando os mais variados temas, levando informação e cultura não só para nossa cidade, mas para todo o país. Um fazine, impresso ou xerocopiado, excede as barreiras da distância e da diferença de culturas e de maneira simples e despojada se espalham por ai a despeito da velocidade da internet hoje em dia.
Publicações Pombalense, suas idéias, seus trabalho, crônicas, poemas e poesias são distribuído em todo o Brasil e também no exterior. O intercambio com diversas pessoas, das mais diferentes idades, condição social e cultura também é muito amplo frutífero. Materiais são requisitados para leitura e exposições de São Paulo, Rio de Janeiro ou Alagoas. De diversas bibliotecas públicas municipais. (Ceará, Piauí, Minas Gerais, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul). Registro na Biblioteca Nacional e tudo mais. Temos publicações premiadas e reconhecidas e a disseminação de publicações alternativas em Pombal está apenas começando.
Veja alguns fanzines da cidade. Peça o seu e conheça a força das publicações alternativas:

ZiNE InDE – O Inde foi o primeiro fanzine da cidade. Sua primeira edição é datada de julho de 2004. Iniciou-se em formato ofício, depois recortes e colagens. Atualmente em formato A5, livreto com 28 páginas. O Inde aborda temas de cunho social, político, comportamento e arte. Mesmo sem uma periodicidade freqüente, continua na ativa. Encontra-se o último exemplar gratuito na Sorveteria Ki-delícia ou na Biblioteca Pública. E quem não é da cidade e tiver interesse peça pelo e-mail: zineinderp@bol.com.br e receberá pelos correios gratuitamente.


O PIRA – Desde fevereiro de 2005. Hoje são 12 edições publicadas. Adquira na Banca de Revista Opções ou entre em contato...

L.I.X.O – Infelizmente não mais deu continuidade e ficou com uma única só edição. Este tinha uma linha exclusivamente política. Editado pelo baterista da Malaco Velho, Junior, seu foco foi abordar as mazelas vigentes da sociedade.

O COLETIVO – Informativo libertário anarco-punk. O Coletivo publicou até o momento somente uma edição em 2005. Sua temática é contestação e disseminar informações subversivas. Alem de divulgar outros canais locais de informação. Para contatos Falar com Décio Filho pelo e-mail: defirock@bol.com.br

O BARDO – Fanzine poético literário que comenta clássicos da literatura e reverbera poesias, tanto bradas quanto brandas. Além de textos outros afins. Um potencial de letras e sentidos. Um zine que trata de obras e maestros das letras. Já foram 7 edições publicadas desde abril de 2005. Aos interessados, entrar em contato com Paulo Ferreira pelo e-mail: paulero@bol.com.br ou viste www.zineobardopombalense.blogspot.com e veja uma prévia. O site não substitui o material impresso

VOZES DA CIDADE – Esse surgiu após um trabalho grupal de exposição de artes plásticas e musicais através do CLAT. Editado pelo poeta Vinícios C. de Morais e por (irmã de Keite que não lembro o nome). O V.C. é um conjunto de poesia de alguns poetas locais em formato livreto A5. Pode-se encontrar através do e-mail toninhosanc@hotmail.com, entrar em contacto com Vinícios Costa.

O OBSERVADOR DOS DIAS – Na serena observação “introspectiva” do homem, destaca-se como tal, um trabalho alternativo na forma e com propósito poético-reflexivo no fundamento. O Observador dos dias pode ser interpretado como todo aquele que se submete a dar valor as coisas simples, verdadeiras e honestas, onde se preocupa em saber o que é o amor, sua proposta. Apreciar o nascer dos dias, o belo e inspirador mistério das noites. Observar as árvores, apreciar o canto dos pássaros, o homem e seus valores. Abordar o âmago da essência humana a tentar compreender do porquê de tantas maldades, enfim, faz parte dum observador dos dias, o que se pode entender como objetivo desse interessante trabalho. Até porque, compreender “o mundo humano” é ter mais um pouco de consciência da boa utilidade do homem na harmonia mútua e com o meio em que se vive. Apreciar a vida no seu ponto mais máximo e benévolo é de inquestionável prazer. O Observador publicou até então 5 edições. Para adquirir



A QUIMERA - nasceu da inquietação dos autores Kelly Souza e Adelton Oliveira em mostrar aos leitores dessa cidade e de outras, que pode se fazer algo pela cultura ao qual estamos inseridos. Seu nascimento veio da seguinte forma: - Certa vez escrevi um texto retratando a educação e a forma ao qual se procede a educação brasileira, e pensei em expor em algum instrumento de divulgação de nível global que me desse a oportunidade de mostrar o meu ponto de vista e a minha opinião referente a esse tema, mas, não vi a possibilidade de algum desses instrumentos abordar o provável tema devido a não sair da forma que eu desejasse então alguém me disse: “porque você mesma não faz o seu próprio fanzine, assim demonstra o seu ponto de vista, aborda temas reflexivos e questionadores, além de abrir espaço não só para o seu “eu” e sim para qualquer um que esteja com vontade de mostrar suas obras, sua arte, seus trabalhos?”. Então lembrei que um dia me disseram que a nossa liberdade não é dada, é nosso direito ao nascer. Mas, há momentos na história que ela deve ser conquistada, e foi através dessa idéia que que tive a ousadia de iniciar esse projeto. A Quimera, zine que surge com estética organizada, se é que existe organização propriamente dita para um fanzine, com temas contemporâneos, questionadores, reflexivos, abordando alternativas e possibilidades de se mostrar uma cultura mais diferenciada das dos “padrões normais”, mostrando o que se tem aqui em nossa cidade, além de refletir críticas, questionamentos dúvidas, certezas. O Zine pode ser encontrado na Sorveteiria K - Delícia, na Biblioteca Municipal de Ribeira do Pombal e através dos e-mails:aquimera2@yahoo.com.br; celinekel2@hotmail.com; adeltonoliveira@hotmail.com e através dos endereços: Avenida Ferreira Brito, 851 - Centro, Ribeira do Pombal - Ba e Rua Osvaldo Cruz, 1052 - Centro, CEP 48400-000, Ribeira do Pombal - Ba. Possa se dizer que esse “projeto” seja “Utópico”, mas, quem nessa vida nunca foi quimérico? Quem já não sonhou com algum “absurdo?”, quem já não viajou com seus pensamentos e imaginou algo abusivo e diferente? Não existe esse ser, e se existe, deve estar perdido no tempo e no espaço.

sexta-feira, 4 de julho de 2008



Geni E O Zepelin ( A CIDADE E SEU JARDIM)

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniqüidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela formosa dama
- Esta noite me servir

Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

(Julinho da Adelaide)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

LINGUAGENS



A prosopopéia e a linguagem
Dois corpos na areia da praia
Areia da praia varrida pelo vento e pelo mar
Ondas chispadas de sal
Ondas de areia e de vento ao longo
Palavras que resistem à água
A vara e a areia
A alma e o confinamento
A pele e as cicatrizes de letras
O poema e a areia
O mar e o pensamento
A soltura do infinito velado
Linguagens que não são linguagens
Palavras que não são palavras
Quem irá lê-las?
Antes do trago da maré
Antes que os grãos se unam?
Quem irá transformar em linguagem o comunicado sem destino?
Dois corpos na areia da praia
A vara e os grãos
O silêncio e as ondas repetidas
A linguagem e a água que a leva
Sem destino, inerte e vazia.
(PF 21/06/1999)

quinta-feira, 5 de junho de 2008


Escrever é tatear as idéias com os dedos

Como nestas pinceladas digitais

É o esmero das palavras

Que surgem em borbotões sem sentido

Captam-se e revelam-se em sinais

Remete-me ao limiar da égide

Viagens sem par

Onde me sinto livre verdadeiramente

Único condutor de mim

Sem destino neste mar

Interminável odisséia

Viagens... viagens...

O que resta são sinais precisos

Do que dentro de mim

Ecoa como frases virgens

Este exercício me mantém calmo

Conciso em meu palmar

Pasmo de tantas luas a ver

Inquieto por mais e mais

22/09/1998 PF

quarta-feira, 28 de maio de 2008
















O sol bebe a água do rio

Todos os pés no chão

Calos, suplicas, beijo na planta

Evaporei-me ali


Viro chuva

Lavo os rostos

Corro para onde os dias irão

Cheiro todas as peles

Entre as pernas que gozam


Evapora

Lava

Cheira e

Gozam


O que era dor

Vira flor por tanto calor

Brinca na lama várzea

Pés quentes arrastam-se

Areia quente, arrasta-me


(Ba., 1995 - não pub.)

quinta-feira, 15 de maio de 2008



Enquanto pulsa o sangue nas fontes
Algumas crianças cantam o medo
Enquanto outras falam de amor
E outras se atiram loucas de pontes

O mundo pulsa veloz sobre os contos
Passam as folhas de novo livro
As pessoas correm seus olhos
Sobre luminosos lindos e tortos

(SP - 1990 - pub. O Bardo#8)

sábado, 3 de maio de 2008

Metáfora (Gilberto Gil)

Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta,
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplismente metáfora

quarta-feira, 30 de abril de 2008



Minha mente naufraga em delírios
Meus olhos se perdem no infinito
Ontem foi um dia chuvoso e belicoso
Daqueles de um cinzento não descrito

Vi a lua ancorada no alto
Ser engolida pelas nuvens viajantes
Senão, veria aqui embaixo as luzes
Os fogos e o pulsar de corações ululantes

Procurava o que não devia ter perdido
Atado pelo desejo de encontrar asilo
Em algo que teima a soluçar no peito
Como versos lançados em falso estribilho

Sentado, prostrado na soleira retilínea
Sentia a inércia admoestada de um silêncio
Que povoa esta cidade que não é minha
De rios palmeados, lenhosos de cio imenso

Nesta cidade sem outono e pouca primavera
Sabores coloridos, cumprimentos em língua morta
Encontro as esquinas, pedaços de quem eu era
Soprados pelo vento sudeste, ar de sanha sem porta

(Paulo Ferreira 15/05/2007 - publicado no O Bardo #6 - jun2007)

terça-feira, 29 de abril de 2008

“Cada mente é um universo. Mergulhada em si, sem satélites. Em cada universo, idéias que borbulham como gases etéreos na atmosfera. Vários elementos. Colidem. Misturam-se, mas não transformam. Não criam. Nada de novo nasce. Cada universo, seu centro. Sua bolha e seu mundo. Não mundos e de pluriverso. Um mundo, um verso uni verso. Nada de trocas. Sem pulso. Só recepção e células foto-sensíveis. Narcisismo. Ostracismo. Seus adjetivos.”

Fóruns, encontros, plenárias... acontecem em toda parte. Discutem formas e meios de conseguir um mundo melhor. E ai eu me pergunto, o que eu, cidadão respeitável, consciente, preocupado com o mundo e com semelhante (sic) está fazendo para que isso aconteça? Com o quê contribuo para uma sociedade melhor – justa, igualitária, livre - ? Aqui, na frente desta tela, fiquei um bom tempo procurando. Separo algum lixo, reutilizo muita coisa, mas no final, no lixão aqui ao lado, é quase tudo misturado de novo. Sou ecológico e não maltrato as crianças nem os animais, em fim, como disse o cara, contribuo com a minha parte para o zelo social. Mas isso basta?
Ah, me lembrei, estou salvo desta agonia... “Faça a revolução primeiro dentro de você e você revolucionará o mundo!!!” Acho que não. Eu tenho muita parede para derrubar, sei. Muita coisa para reformar, mas, e se depois ninguém me ouvir? E se ninguém vê a revolução? De que adianta? Todo mundo quer mudar alguma coisa. De casa, de cidade, de mundo. A casa, a cidade, o mundo. Mas como transformar de verdade? Como reinventar? Como recriar? O que é novo, moderno, de vanguarda? O que é velho, reacionário, retrô? E se o novo já for velho? E, se ser novo é ser velho? Como descobrir? Talvez não fazer nada, ficar olhando. Deixar que a teoria do caos aja. Que da inanição nasça algum movimento. Que da lama brote o novo lírio...
Vamos ficar esperando?

CARBONO



ALÉM DESSA ESTRELA
NADA EXISTE DE IGUAL
OU SE MESMO PARECIDO EXISTA
COMO SÃO?
DESTE MUNDO DE TANTO BILHÕES DE ANOS
SOMOS O EXTRATO DA CRIAÇÃO
O CUME DA EVOLUÇÃO
TEMOS EM NÓS PARTE DE TODO O UNIVERSO
CADA ÁTOMO, CADEIAS E FUSÕES
VINDOS DE MUITOS CICLOS
TRAZEM CONSIGO A IDENTIDADE DO COSMOS
QUASARES, ESTRELAS, BURACOS NEGROS
TUDO CONJURA EM NÓS
DESTA IMENSA OBRA DE COESÃO
SOMOS O MAIS INGÊNUO RESULTADO
DESTA REVOLUÇÃO DE ASTROS
ESTÁ EM NÓS A MAIOR RECOMPENSA
A LUZ DO COSMO QUE EM NÓS HABITA

28/09/1998 PF (publicado no O Bardo #4 - set. 2006)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

SEM TÍTULO – pub. no Bardo #07



Rostos grandes, de olhos esbugalhados
A respiração falhando na mão
Areia ao vento entre as linhas do tempo
e o corpo que pulsa compassadamente

E agora? Haja tempo
Haja fôlego no peito
Haja calo no pé, haja
Haja dias cintilando nas manhãs

A bruma que excita os seus dusis
e comem todas as folhas de outono
e fazem voar as almas insones
enquanto houver saudade

Suas orelhas agora estão sujas
flexíveis, abanam e balançam
O sereno frio que mantém os dias retos
aqueles, nos quais era chamado de louco

Que não haja tempo de ter motivo
de ouvir o som das folhas de outono
Embalo de mundo que cai das árvores
Sinfonia de pneus que as tocam lá na rua

(Paulo Ferreira p.1997 ver.18.07.07)

“ENQUANTO OS SÁBIOS PENSAM EM CERTEZA, OS IDIOTAS ATACAM DE SURPRESA.”



1. Por conta de atividades correlatas não venho postando e a última edição do Bardo dada-se de fevereiro, mas sem essa de ter saído do ar por conta de uma tal de censura. Apenas mudei de endereço por outros motivos (rixa com o hospedeiro) e acrescentei zine ao endereço. Portando, estou no ar com postagens abertas para comentários, não anônimos é claro.
2. Realmente, as Leis da física não se pode controlar (o fluxo da água, da energia elétrica etc), mas a liberdade de expressão cessa na irresponsabilidade de alguns quando propagam boatos e baixarias, que agridem a imagem de quem quer que seja. Sacanagem. Essa de que a internet é lugar sem controle, que está fora do mundo e de suas leis e responsabilidades. Isso não existe. É apenas um meio novo de comunicação e ponto. Como a fumaça, o tambor, a carta, o telegráfo e o telefone. Um emissor e um receptor e a mensagem é de inteira responsabilidade de quem a emite. Se quer se comunicar, se vire e arque com a responsabilidade do que diz. A liberdade de expressão me permite dizer o que quiser, mas também me obriga a responder pelo o que digo. A internet, como qualquer meio, não permite que se diga o que não se pode provar. Fazê-lo anonimamente é no mínimo covardia. Aliás, ledo engano pensar que na internet tem alguma atividade anônima. (Em especial para a maioria dos usuários e alguns metidos a harckers e crackers). Que é algo sem controle, anárquica, orgânica BLA, BLA, BLA, BLA, BLA. Pelo contrário, é intrinsecamente ordinária, hierática e previsível. É protocolizada, etiquetada e comportada. Ainda é sectária economicamente e inacessível para muitos. Portanto, a internet não é nada democrática, nem muito menos plural.
3. O Bardo continua falando de TUDO, através da poesia e da literatura. Divulgando zines e publicações e JAMAIS substituindo as versões impressas, encaminhadas via correios pelo site na internet. As idéias lançadas no papel e distribuída por ai, para os amigos dessa vida continua.
4. Também acreditando que somente através da educação e da cultura melhoraremos a nossa condição.
Nossos governantes e autoridades não são alienígenas, vindos de outros planetas. São o que temos de “melhor”. São “os escolhidos” por nós, não se esqueçam.



SUBVERSIVA
(Ferreira Gullar)

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.

POEMA BRASILEIRO
(Ferreira Gullar)

No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade

terça-feira, 25 de março de 2008

O BARDO #7 JÁ ESTÁ NA ÁREA!


O Bardo #7 já está na área! Envie selos para rua Padre Mendonça, 252, Ribeira do Pombal, Bahia, Cep 48400-000 ou peça pelo e-mail paulero@bol.com.br a versão para impressão. Nesta edição um pouco de Fernando Pessoa e seus heterônimos. Só pra lembrar, esse blog não substituirá a versão impressa. Uma folha A4 parece pouco para pretensiosa intensão de incentivar o gosto pela leitura, em especial de poesia, mas ainda acredito no poder da palavra impressa em um pedaço de papel. Adquira o seu e boa leitura!



Sou um guardador de rebanhos,
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz."

(Fernando Pessoa)

sexta-feira, 21 de março de 2008

(sem nome)


Quero minha casa com quatro vitrais
Quatro janelas abertas para a fonte
Mostrando lá embaixo, no horizonte
todos os pontos cardeais

Um rádio ligado em várias estações
Temporãs em um mesmo segundo
O hálito quente, o bocejo do mundo
E as covas apenas para as lamentações

À beira de uma lagoa de águas não azuis
Ouvir as canções dos elementais
O bater e o ranger podre do cais
nesse nincho lôbrego ao qual me conduz

Esquecer o medo daquela face fria
Embalar-me em tardes sem remorso
nimbo viscoso, branco ócio
onde belos sentidos eu encontraria

(p.1993 ver.10.01.08 – Paulo Ferreira)

terça-feira, 18 de março de 2008

O BLOG DO BARDO MUDOU DE ENDEREÇO

Por conta de algumas confusões absurdas do uso indevido do GOOGLEINC+OPERA, O blog mudou de endereço... mas, a intenção continua a mesma, tentar trazer um pouco de poesia e literatura para nós, pobre mortais...