sábado, 15 de dezembro de 2012

Poetas e poetizas ou não: enviem seus trabalhos que publico, aqui ou no impresso (que roda mundo), com prazer. Muita gente agradece. Em breve uma ‘coletânea’ de novos expoentes pombalinos. (tem muita coisa boa por ai/aqui). Participe e tenha seus ‘grafos’ publicados.

domingo, 21 de outubro de 2012

O BARDO #11 ADÉLIA PRADO

Na área o Bardo #11, peça o seu: paulero@bol.com.br

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

a televisão para quem tem fome: desliga-me ou me consome

sábado, 25 de agosto de 2012

depois da letargia renasce mais um dia pretensão que seria algo mais do que se via como essa rima que não choca nem anima apenas insiste nesta teima confissões para a retina 25/08/2012

Do livro Caprichos e Relaxos, de Paulo Leminski "sim eu quis a prosa essa deusa só diz besteiras fala das coisas como se nova não quis a prosa apenas a idéia uma idéia de prosa em esperma de trova um gozo uma gosma uma poesia porosa"

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

pub no O Bardo #10



Quero minha casa com quatro vitrais
Quatro janelas abertas para a fonte
Mostrando lá embaixo, no horizonte
todos os pontos cardeais.

Um rádio ligado em várias estações
Temporãs em um mesmo segundo
O hálito quente, o bocejo do mundo
E as covas apenas para as lamentações.

À beira de uma lagoa de águas não azuis
Ouvir as canções dos elementais
O bater e o ranger podre do cais
nesse nicho lôbrego ao qual me conduz.

Esquecer o medo daquela face fria
Embalar-me em tardes sem remorso
nimbo viscoso, branco ócio
onde belos sentidos eu encontraria.

p.1993 ver.10.01.2008 – Paulo Ferreira)

domingo, 18 de outubro de 2009

MOSCAS AUSENTES

Póstumas
As lágrimas transformaram-se em orvalho na noite.
Acordam-me de meu novo sono.

A lembrança sem mais rugas
Ou anjos vindouros e aniversários ...
São propostas eloqüentes e ríspidas.

Volto. Ou talvez ficarei
ou já tenha ficado à casualidade de moscas ausentes
Arqueado.
Cotovelos arcaicos nas mesas dos bares.
Fadado ao esquecimento.
(p15/08/94)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O PENSAMENTO (pub. no O Bardo #5)



Este é o reino que impero
Em castelos erguidos de paralelos de ilusões
Aqui busco, e encontro sempre,
Legítimas e apreciadas formas

Dão-se perfeitas e puras
Pois assim nascem
Não como filhos, rebentos
Mas como pedras que jorram em feldspatos incandescentes

Surgem, abalando a semântica
Rompem todas as barreiras
Queimam e depois esfriam
E assim para sempre permanecem
Imutáveis, intocáveis

Neste claríssimo mundo
Encontro os gestos verbais
De meus mais secretos signos

Permitem jogar sem regras
Sem tática, sem lógica, apenas a parição
Em desdobros de eras sazonais
Na pretensão galhofa de grafar meu julgo.

(Paulo Ferreira - 29/06/1998)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A Obsessão do Sangue (Augusto dos Anjos) - atendendo a pedidos ...





Acordou, vendo sangue... Horrível! O osso

Frontal em fogo... Ia talvez morrer,

Disse. Olhou-se no espelho. Era tão moço,

Ah! Certamente não podia ser!



Levantou-se. E, eis que viu, antes do almoço,

Na mão dos açougueiros, a escorrer

Fita rubra de sangue muito grosso,

A carne que ele havia de comer!



No inferno da visão alucinada,

Viu montanhas de sangue enchendo a estrada,

Viu vísceras vermelhas pelo chão...



E amou, com um berro bárbaro de gozo,

O monocromatismo monstruoso

Daquela universal vermelhidão!

(Outras Poesias, 44)





Augusto dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, no município de Cruz do Espírito Santo, estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de idade.

Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Filiado. Seu em contato com a leitura, iria influenciar muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.

Com a obra de Herbert Spencer, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel, teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia Sagrada ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, surgiriam na sua época.

Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte.

Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia.

Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A TARDE



Livre
a linha quase reta do horizonte
em curvas
vai cortando e definindo
uma velha e surrada colcha de retalhos de diversos tons
ora verde, carregado e profundo
passando por cinza até a nulidade marrom

Céu baixo.
Opressivo azul infinito em cúpula virada
Molde impreciso e volátil do mosaico vivo
Céu pressago que explode em azul locaz
comprimindo tudo em um afago suave

No centro deste círculo total, nesta terra
os olhos podem até perder a órbita
à boca da cratera, em um giro
receber o mundo nos braços
sentindo-o mais próximo entre os dedos

(Paulo Ferreira – Bahia - 02/02/2000)

DANE-SE!!!



Dane-se!
Que nada tenha
Que leve tudo mesmo
Haverá sempre outra maneira
E outra e depois outra
Não esta, é certo
Mas outra sim
Dane-se!

(Paulo Ferreira - Bahia, 20/02/2000)

HINO AO SONO

Ó sono! Ó noivo pálido
Das noites perfumosas,
Que um chão de nebulosas
Trilhas pela amplidão!
Em vez de verdes pâmpanos,
Na branca fronte enrolas
As lânguidas papoulas,
Que agita a viração.


Nas horas solitárias,
Em que vagueia a lua,
E lava a planta nua
Na onda azul do mar,
Com um dedo sobre os lábios
No voo silencioso,
Vejo-te cauteloso
No espaço viajar!


Deus do infeliz, do mísero!
Consolação do aflito!
Descanso do precito,
Que sonha a vida em ti!
Quando a cidade tétrica
De angústias e dor não geme…
É tua mão que espreme
A dormideira ali.


Em tua branca túnica
Envolves meio mundo…
É teu seio fecundo
De sonhos e visões,
Dos templos aos prostíbulos,
Desde o tugúrio ao Paço.
Tu lanças lá do espaço
Punhados de ilusões!...


Da vide o sumo rúbido,
Do hatchiz a essência,
O ópio, que a indolência
Derrama em nosso ser,
Não valem, génio mágico,
Teu seio, onde repousa
A placidez da lousa

E o gozo de viver…

Ó sono! Unge-me as pálpebras…
Entorna o esquecimento
Na luz do pensamento,
Que abrasa o crânio meu.
Como o pastor da Arcádia,
Que uma ave errante aninha…
Minh’alma é uma andorinha…
Abre-lhe o seio teu.

Tu, que fechaste as pétalas
Do lírio, que pendia,
Chorando a luz do dia
E os raios do arrebol,
Também fecha-me as pálpebras…
Sem Ela o que é a vida?
Eu sou a flor pendida
Que espera a luz do sol.

O leite das eufórbias
P’ra mim não é veneno…
Ouve-me, ó Deus sereno!

Ó Deus consolador!
Com teu divino bálsamo
Cala-me a ansiedade!
Mata-me esta saudade,
Apaga-me esta dor.

Mas quando, ao brilho rútilo
Do dia deslumbrante,
Vires a minha amante
Que volve para mim,

Então ergue-me súbito…
É minha aurora linda…
Meu anjo… mais ainda…
É minha amante enfim!

Ó sono! Ó Deus noctívago!
Doce influência amiga!
Génio que a Grécia antiga
Chamava de Morfeu,
Ouve!... E se minhas súplicas
Em breve realizares…

Voto nos teus altares
Minha lira de Orfeu!





Castro Alves nasceu na Fazenda das Cabeceiras, perto da cidade de Curralinho (hoje cidade de Castro Alves), no dia 14 de Março de 1847. Quando tinha sete anos, a família mudou-se para Salvador. No início de 1862, Castro Alves partiu para o Recife, onde fez os preparatórios para a Faculdade de Direito. Conheceu então a actriz portuguesa Eugênia Câmara, de quem se tornou amante aos dezanove anos. Na Faculdade, parecia mais interessado em agitar ideias abolicionistas e republicanas e produzir versos do que estudar leis. Óptimo declamador dos seus próprios poemas, recitou O navio negreiro e Vozes d'África sob a ovação dos estudantes. Sua vida afectiva entrou em crise pelas constantes traições à orgulhosa Eugênia, acabando esta por abandoná-lo definitivamente. Morreu em Fevereiro de 1871, antes de completar vinte e quatro anos, após a publicação do seu único livro em vida: Espumas Flutuantes (1870).

segunda-feira, 3 de novembro de 2008



TECENDO A MANHÃ

João Cabral de Melo Neto

1

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

(A Educação pela Pedra—1966)



Pode ser

mesmo não sendo certo

posso voltar

novamente poderei transformar tudo aquilo

acho que poderei concretizar

não petrificar

os meus pensamentos

mesmo que inúteis aos estribos

voltar é diferente do que pensamos

01/01/1990

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

TROMBONE NA RODOVIÁRIA - publicado no O Bardo#0

 
(da série viagens)

É preciso ter muita paciência!
Esperar como pedra ou milenares vasos chineses.

Faltam apenas algumas horas, creio.

As grandes cidades são tão perecidas,
tão corriqueiras
que chegam e ser iguais

Pelo alto - falantes
Avisos.
Pedidos de socorro
e depois a música igual: solo de trombone.

A expectativa de todos ali.
Os ônibus, perfilados, cospem gente
e o disco do serviço de som está arranhado...
Solidão. Solidão compartilhada.
O balet ritmado das vassouras do exército verde.
As crianças pedindo trocados.
Trocam por outros trocados,
trocam...

Longa espera.

(p16/04/1992) Paulo Ferreira

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Passado um tempo, em especial o tempo da pasmaceira eleitoral nas cidades, estamos de volta.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

A CERCA

Até onde ‘vai’ os olhos
Nas cidades, nos roçados
Uma cerca, uma linha infinita
Constrói a propriedade: uma parte

As partes e outras partes
Unidas por sua parte
Uma parte, unidade que se reparte
Divide os serem, aos pares

O ser cercado em sua parte
Cada cerca, cada parte: um ser
Parte que não se reparte
Liberdade que não se cerca

(Paulo Ferreira - 20/05/2005 – publicado no O BARDO #3)

PRA BOM ENTENDEDOR MEIA PALAVRA BASTA

(de meias palavras não tem nada)

Nunca Senti Tanto Medo De Ser Feliz - Zé Rodrix

Antigamente eu até sonhava
Mas hoje nem durmo mais, camarada
Desde que pegaram o meu lindo sonho
E transformaram em menos que nada
Acreditei quando me disseram:
Agora é que vai ser bom, camarada
Pisei fundo e forte na estrada e pensei: tô pagando pra ver

Pois pegaram meu sonho mataram meu sonho
Crivaram meu sonho de bala
Destroçaram meu sonho, picaram meu sonho
Jogaram meu sonho na vala
E me deram em troca a TV colorida gritando no meio da sala

E hoje que eu vejo esse olhar de cobiça na cara de todo o país
É que entendo que nunca senti tanto medo de ser feliz
Ainda assim a esperança acordando no peito boceja e me diz
Vai pagando pra ver que ainda vai ser do jeito que a gente quis, camarada

PRA QUEM ACHA QUE POESIA SÓ ORNAIII

Em tempos de política, me refugiarei na poesia, na esperança de encontrar um abrigo, para esse eleitor tão sofrido (...)

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

(Cecília Meireles)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Quarta Poesia e Política

Um país se faz com armas e mesmices
Sem homens
E sem o direito de se permitir o fluir do conhecimento.
Com sonhos, desejos e impulsos sonegados
Sem nomes
Sem empatias ou fraquezas deste gênero...
Esta filosofia vencida do meu país enausea-me
Estágio avançado de um câncer na apoética de minha consciência
Dispertando-me, tardamente, um indestrutível aumejo por liberdade.
Nesta imparcialidade, ânsia sentimental.
Meu país é meu risco de vida
Carnificina emotiva
Holocausto antropocêntrico
Assassinato de princípios e sequestro ideológico.
Protege-se a covardia com estupidez e agressividade
Cultua-se a insegurança
Propaga-se a injustiça
Esconde-se a juventude ignorante e a morte de crianças desamparadas.
Já duvida-se do que deveras o homem sente
Se deveras sente ou vive
E faz-se pouco caso da honestidade.
Toda esta maldade alimentada
E toda esta falta de bom senso
Causam na minha poesia consciência política
E na minha política, liberdade incondicional.

(Prosador Poético)