quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Quarta Poesia e Política

Um país se faz com armas e mesmices
Sem homens
E sem o direito de se permitir o fluir do conhecimento.
Com sonhos, desejos e impulsos sonegados
Sem nomes
Sem empatias ou fraquezas deste gênero...
Esta filosofia vencida do meu país enausea-me
Estágio avançado de um câncer na apoética de minha consciência
Dispertando-me, tardamente, um indestrutível aumejo por liberdade.
Nesta imparcialidade, ânsia sentimental.
Meu país é meu risco de vida
Carnificina emotiva
Holocausto antropocêntrico
Assassinato de princípios e sequestro ideológico.
Protege-se a covardia com estupidez e agressividade
Cultua-se a insegurança
Propaga-se a injustiça
Esconde-se a juventude ignorante e a morte de crianças desamparadas.
Já duvida-se do que deveras o homem sente
Se deveras sente ou vive
E faz-se pouco caso da honestidade.
Toda esta maldade alimentada
E toda esta falta de bom senso
Causam na minha poesia consciência política
E na minha política, liberdade incondicional.

(Prosador Poético)


Walt Whitman foi um grande poeta dos Estados Unidos. Viveu entre 1819 e 1892. Inaugurou o verso livre, muito antes do modernismo. Escrevia com fluência, liberdade, tesão e alegria. Estou relendo seu Leaves of Grass (em português, Folhas das Folhas da Relva). Recomendo a todos que gostam de poesia.
Em homenagem a alguns amigos que estão na campanha eleitoral deste ano, transcrevo o seguinte poema de Whitman (sim, ele era um poeta político, engajado):


Por ti, ó democracia

Vem, tornarei o continente indissolúvel,
farei a mais esplêndida das raças
que o sol jamais clareou,
farei terras magnéticas divinas
com o amor dos camaradas,
com o duradouro amor dos camaradas.

Hei de plantar o companheirismo
denso como o arvoredo a margear
todos os rios da América,
e ao longo das margens dos grandes lagos
e pelos prados todos
farei cidades inseparáveis
umas com os braços nos ombros das outras
com o bem humano amor dos camaradas.

A ti, ó Democracia, de mim
é isto - para te servir, ma femme!
A ti, por ti, vou estes cantos entoando.

[Whitman, Walt. Folhas das Folhas da Relva. Tradução Geir Campos. São Paulo, Brasiliense, 1983]



[ A obra completa de Whitman, em inglês, está disponível em:  http://www.bartleby.com/142/ ]

NOVAS EDIÇÕES DOS ZINES POMBALENSES



Não se esqueçam que as novas edições de O PIRA, A QUIMERA, ZINE INDE e O BARDO já estão na área e podem ser adquiridos na sorveteria Q Delícia (João Paulo), Banca Opções e Biblioteca Municipal. Também, é claro, através de contato com seus “editores”. FANZINES: LITERATURA E ARTE EM QUALQUER PARTE.  

"Poesia e política não são demais para um homem só".



Frase enunciada pelo professor e escritor Jomard Muniz de Brito, em debate recente na UFPB sobre o maio de 1968, revisitando o manifesto "Por que somos e não somos tropicalistas", 1968, Recife, alterando para melhor a conhecida frase de Paulo Martins (personagem do filme "Terra em Transe", de Glauber Rocha), interpretado por Jardel Filho, no recuado ano de 1967.
O homem deve ser poesia e política, por que não? Embora problema complicado, o acesso ou a impossibilidade de uma poética da política tem mobilizado muitos pensadores através dos tempos, desde a crítica de Heródoto a Homero, para quem o poeta exagerava as conquista gregas e faltava com a verdade, até Voltaire, para quem havia uma diferença bem marcada entre história e fábula. Acho que o gesto de Heródoto foi até mais radical que o de Platão em "A República" - a famosa expulsão de poeta da comunidade política ideal -, pois o primeiro historiador buscou uma base na história real dos gregos (as guerras púnicas, ou contra os persas) e não na metafísica, a exemplo de Platão. Se estou sendo claro, quero dizer que a discussão entre poética e política deve ser buscada mais na história que mesmo na filosofia conceitual. Sei que é uma opinião polêmica; de todo modo, uma fecunda hipótese de trabalho. Na "Filosofia da História" de Voltaire - antes de tudo, um grande escritor, um renovador da língua francesa; portanto, mesmo que não queira, um poeta - a possibilidade de escrever uma história universal crível começa exatamente pela eliminação da fábula. Uma pessoa amiga me perguntou durante a semana se toda poética é necessariamente, em sua articulação interna, política. Penso que não. Neste sentido, sou radicalmente kantiano (o que não me impede - ao contrário -, de apresentar diferença relativa com a sua epistemologia subjetiva do sujeito, nos moldes da superação hegeliana): acredito que a autonomia das esferas (combinado com a conexão entre elas, é claro) é uma aquisição da modernidade. Kant falava em três esferas e de três críticas: a razão pura (o conhecimento científico), a razão prática (a moral) e o juízo (a esfera expressiva da arte). Por outro lado, temos, sem dúvida, de vez em quando na história, as irrupções do poético, quebrando a continuidade reificada da vida cotidiana. Bem-vindas irrupções. Por exemplo, a explosão poética dos muros de Paris em 68 pelos grafites dos situacionistas significou precisamente uma aguda intervenção do poético no político. A propósito, gosto das apreciações de Derrida sobre as duas instâncias da linguagem: a acústica, dada pela linguagem formal, e uma dobra interna, que vai dar inclusive nas teias do inconsciente. Mais que na linguagem formal, o lugar da poética encontra-se na escridura do inconsciente, no paradoxo de expressão do inefável. (Jaldes Reis de Meneses).

Escrever para ser publicado é diferente de escrever para si próprio.

Quando escrevemos para nós mesmos, como um diário ou reflexões, estamos usando a escrita para pensar. É um ótimo método para esclarecer questões, visto que no papel mesmo as situações mais complicadas vão se organizando. Não é à toa que tantos terapeutas sugerem a seus clientes escreverem um diário. É muito bom para a cabeça produzir textos sobre o que é importante para nós.

Quando escrevemos para ser publicados, estamos escrevendo para outras pessoas. O foco passa a ser a necessidade dos leitores e não mais as nossas como escritores.

Quando escrevemos para nós, está certíssimo preenchermos nove páginas pesando os prós e os contras de determinada pessoa por quem estamos interessados. Quando escrevemos para os outros, precisamos cortar tudo que não seja interessantíssimo e contribua para o andamento da história, o que provavelmente transformaria todas aquelas dúvidas em um único e curto parágrafo.

É um difícil exercício escrever para ser publicado, porque em geral a gente gosta do que escreve, acha tudo importante e pensa que todo mundo vai gostar também.

Só que isso não é verdade. As pessoas selecionam os livros de acordo com o que estão passando, as dificuldades que estão vivendo. Algo fascinante para nós pode ser o máximo do tédio para um leitor.

Por outro lado, não podemos ter medo. Escrever para os outros é um ato de coragem, de se expor. Quanto mais honestidade a gente coloca no texto, quanto mais ridículo e perdido a gente se apresenta, tanto mais fácil os leitores gostarem da gente.

Quando escrevemos, temos também muita ansiedade a respeito do resultado. Queremos ficar famosos, ser elogiados, de repente até ganhar um dinheirão. É bom saber que a maioria dos escritores não fica nem rica nem famosa, e que nenhum escritor conhecido fez sucesso com o primeiro livro. Nenhum mesmo!

Portanto, vá com calma. Faça o que pode, não pense nos resultados, e vá escrevendo um pouco sempre. Querer escrever o primeiro livro e imaginar que ele vai ser o próximo Harry Potter é pedir para ficar decepcionado. É bem melhor publicar um artigo numa revista aqui, um poema numa coletânea ali e não ter expectativas loucas.

Mas como podemos saber o que dá para ser publicado?

Existem alguns requisitos mínimos para produzir um texto publicável, isto é, que venha a interessar um editor. Se cumprirmos todos, isso não é garantia de que nosso texto será aceito por um editor, mas já é meio caminho andado!

Abaixo estão algumas sugestões para fazer com que os seus escritos fiquem bons:

• Prestar atenção ao que está acontecendo em volta.
A escrita que mais interessa é aquela que fala das preocupações, angústias e felicidades das outras pessoas – e não só as suas – hoje. Os editores desejam obras conectadas com o público, que falem do que importa.

• Falar do que conhece.
Se você é um adolescente que mora numa cidade do interior e nunca viajou para fora do país, não pode escrever uma aventura que se passe em Paris. Vai parecer falsa. Nem dar conselhos para os mais velhos. Você tem de falar do que entende, do que já viveu em primeira mão, do que conhece muito bem.

• Ler muito.
Para escrever bem, você precisa ler todo tipo de literatura, inclusive novos autores brasileiros, romances esquisitos de autores de quem você nunca ouviu falar, arriscar poetas novos. Se você não souber o que os outros estão pensando e publicando, será difícil escrever algo criativo e diferente.

• Escrever muito e sem erros.
Para escrever bem, é preciso escrever todo tipo de coisa, inclusive cartas e emails, com clareza e sem erros ortográficos. Não adianta pensar que o corretor ortográfico ou o revisor vai corrigir seus erros, você precisa saber o que é certo, qual palavra é a melhor numa frase.

• Passar por um crivo de leitores críticos.
Sua mãe não vale, nem seus primos. O que é preciso é ir expondo seus textos a vários leitores que não tenham nenhuma amizade por você e possam fazer críticas. Um site na internet, um artigo numa revista podem dar o tipo de resposta que você precisa. Mas não adiante ficar pescando elogios, é preciso pescar os problemas para saber onde melhorar!

• Jogar fora nove décimos do que originalmente escreve.
Você mesmo tem de selecionar o que é bom e o que é mediano entre os seus escritos, não adianta achar que tudo merece virar livro porque ninguém escreve só maravilhas. Até Guimarães Rosa deixou um monte de coisa na gaveta...

• Amar a língua portuguesa.
A escrita é para aqueles que amam a língua. Não dá para escrever um livro querendo fazer um vídeo ou ficando com preguiça de aprender novas palavras. A língua é a ferramenta do escritor. Como o pintor ama as tintas, o escritor precisa ter fascínio pelas palavras.

• Confiar em si mesmo.
Quando você escreve, acredita que tem algo a dizer. Continue acreditando sempre nisso e busque a melhor maneira de ser autêntico. Editores querem escritos verdadeiros, não materiais artificiais montados para agradar. Faça com o coração que é sempre mais verdadeiro.

Laura Bacellar - laurabacellar@escrevaseulivro.com.br