quarta-feira, 30 de abril de 2008



Minha mente naufraga em delírios
Meus olhos se perdem no infinito
Ontem foi um dia chuvoso e belicoso
Daqueles de um cinzento não descrito

Vi a lua ancorada no alto
Ser engolida pelas nuvens viajantes
Senão, veria aqui embaixo as luzes
Os fogos e o pulsar de corações ululantes

Procurava o que não devia ter perdido
Atado pelo desejo de encontrar asilo
Em algo que teima a soluçar no peito
Como versos lançados em falso estribilho

Sentado, prostrado na soleira retilínea
Sentia a inércia admoestada de um silêncio
Que povoa esta cidade que não é minha
De rios palmeados, lenhosos de cio imenso

Nesta cidade sem outono e pouca primavera
Sabores coloridos, cumprimentos em língua morta
Encontro as esquinas, pedaços de quem eu era
Soprados pelo vento sudeste, ar de sanha sem porta

(Paulo Ferreira 15/05/2007 - publicado no O Bardo #6 - jun2007)

terça-feira, 29 de abril de 2008

“Cada mente é um universo. Mergulhada em si, sem satélites. Em cada universo, idéias que borbulham como gases etéreos na atmosfera. Vários elementos. Colidem. Misturam-se, mas não transformam. Não criam. Nada de novo nasce. Cada universo, seu centro. Sua bolha e seu mundo. Não mundos e de pluriverso. Um mundo, um verso uni verso. Nada de trocas. Sem pulso. Só recepção e células foto-sensíveis. Narcisismo. Ostracismo. Seus adjetivos.”

Fóruns, encontros, plenárias... acontecem em toda parte. Discutem formas e meios de conseguir um mundo melhor. E ai eu me pergunto, o que eu, cidadão respeitável, consciente, preocupado com o mundo e com semelhante (sic) está fazendo para que isso aconteça? Com o quê contribuo para uma sociedade melhor – justa, igualitária, livre - ? Aqui, na frente desta tela, fiquei um bom tempo procurando. Separo algum lixo, reutilizo muita coisa, mas no final, no lixão aqui ao lado, é quase tudo misturado de novo. Sou ecológico e não maltrato as crianças nem os animais, em fim, como disse o cara, contribuo com a minha parte para o zelo social. Mas isso basta?
Ah, me lembrei, estou salvo desta agonia... “Faça a revolução primeiro dentro de você e você revolucionará o mundo!!!” Acho que não. Eu tenho muita parede para derrubar, sei. Muita coisa para reformar, mas, e se depois ninguém me ouvir? E se ninguém vê a revolução? De que adianta? Todo mundo quer mudar alguma coisa. De casa, de cidade, de mundo. A casa, a cidade, o mundo. Mas como transformar de verdade? Como reinventar? Como recriar? O que é novo, moderno, de vanguarda? O que é velho, reacionário, retrô? E se o novo já for velho? E, se ser novo é ser velho? Como descobrir? Talvez não fazer nada, ficar olhando. Deixar que a teoria do caos aja. Que da inanição nasça algum movimento. Que da lama brote o novo lírio...
Vamos ficar esperando?

CARBONO



ALÉM DESSA ESTRELA
NADA EXISTE DE IGUAL
OU SE MESMO PARECIDO EXISTA
COMO SÃO?
DESTE MUNDO DE TANTO BILHÕES DE ANOS
SOMOS O EXTRATO DA CRIAÇÃO
O CUME DA EVOLUÇÃO
TEMOS EM NÓS PARTE DE TODO O UNIVERSO
CADA ÁTOMO, CADEIAS E FUSÕES
VINDOS DE MUITOS CICLOS
TRAZEM CONSIGO A IDENTIDADE DO COSMOS
QUASARES, ESTRELAS, BURACOS NEGROS
TUDO CONJURA EM NÓS
DESTA IMENSA OBRA DE COESÃO
SOMOS O MAIS INGÊNUO RESULTADO
DESTA REVOLUÇÃO DE ASTROS
ESTÁ EM NÓS A MAIOR RECOMPENSA
A LUZ DO COSMO QUE EM NÓS HABITA

28/09/1998 PF (publicado no O Bardo #4 - set. 2006)

sexta-feira, 11 de abril de 2008

SEM TÍTULO – pub. no Bardo #07



Rostos grandes, de olhos esbugalhados
A respiração falhando na mão
Areia ao vento entre as linhas do tempo
e o corpo que pulsa compassadamente

E agora? Haja tempo
Haja fôlego no peito
Haja calo no pé, haja
Haja dias cintilando nas manhãs

A bruma que excita os seus dusis
e comem todas as folhas de outono
e fazem voar as almas insones
enquanto houver saudade

Suas orelhas agora estão sujas
flexíveis, abanam e balançam
O sereno frio que mantém os dias retos
aqueles, nos quais era chamado de louco

Que não haja tempo de ter motivo
de ouvir o som das folhas de outono
Embalo de mundo que cai das árvores
Sinfonia de pneus que as tocam lá na rua

(Paulo Ferreira p.1997 ver.18.07.07)

“ENQUANTO OS SÁBIOS PENSAM EM CERTEZA, OS IDIOTAS ATACAM DE SURPRESA.”



1. Por conta de atividades correlatas não venho postando e a última edição do Bardo dada-se de fevereiro, mas sem essa de ter saído do ar por conta de uma tal de censura. Apenas mudei de endereço por outros motivos (rixa com o hospedeiro) e acrescentei zine ao endereço. Portando, estou no ar com postagens abertas para comentários, não anônimos é claro.
2. Realmente, as Leis da física não se pode controlar (o fluxo da água, da energia elétrica etc), mas a liberdade de expressão cessa na irresponsabilidade de alguns quando propagam boatos e baixarias, que agridem a imagem de quem quer que seja. Sacanagem. Essa de que a internet é lugar sem controle, que está fora do mundo e de suas leis e responsabilidades. Isso não existe. É apenas um meio novo de comunicação e ponto. Como a fumaça, o tambor, a carta, o telegráfo e o telefone. Um emissor e um receptor e a mensagem é de inteira responsabilidade de quem a emite. Se quer se comunicar, se vire e arque com a responsabilidade do que diz. A liberdade de expressão me permite dizer o que quiser, mas também me obriga a responder pelo o que digo. A internet, como qualquer meio, não permite que se diga o que não se pode provar. Fazê-lo anonimamente é no mínimo covardia. Aliás, ledo engano pensar que na internet tem alguma atividade anônima. (Em especial para a maioria dos usuários e alguns metidos a harckers e crackers). Que é algo sem controle, anárquica, orgânica BLA, BLA, BLA, BLA, BLA. Pelo contrário, é intrinsecamente ordinária, hierática e previsível. É protocolizada, etiquetada e comportada. Ainda é sectária economicamente e inacessível para muitos. Portanto, a internet não é nada democrática, nem muito menos plural.
3. O Bardo continua falando de TUDO, através da poesia e da literatura. Divulgando zines e publicações e JAMAIS substituindo as versões impressas, encaminhadas via correios pelo site na internet. As idéias lançadas no papel e distribuída por ai, para os amigos dessa vida continua.
4. Também acreditando que somente através da educação e da cultura melhoraremos a nossa condição.
Nossos governantes e autoridades não são alienígenas, vindos de outros planetas. São o que temos de “melhor”. São “os escolhidos” por nós, não se esqueçam.



SUBVERSIVA
(Ferreira Gullar)

A poesia
Quando chega
Não respeita nada.

Nem pai nem mãe.
Quando ela chega
De qualquer de seus abismos

Desconhece o Estado e a Sociedade Civil
Infringe o Código de Águas
Relincha

Como puta
Nova
Em frente ao Palácio da Alvorada.

E só depois
Reconsidera: beija
Nos olhos os que ganham mal
Embala no colo
Os que têm sede de felicidade
E de justiça.

E promete incendiar o país.

POEMA BRASILEIRO
(Ferreira Gullar)

No Piauí de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade

No Piauí
de cada 100 crianças
que nascem
78 morrem
antes
de completar
8 anos de idade

antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade